Por:
J. Camilo G. Sardinha (*)
A
versão 2015 da norma ISO-9001 trouxe diversas mudanças, algumas apenas
estruturais e outras com requisitos realmente novos.
A
estrutura da norma mudou, alinhando-se à nova estrutura que todas as normas de
sistemas de gestão estão passando a adotar. Com isso a sua estrutura passou de
8 para 10 cláusulas.
Também
tivemos alterações em alguns termos utilizados, como por exemplo, provedor externo no lugar de
fornecedor, informação documentada
substituindo simultaneamente os termos documento e registro, produtos e serviços ao invés de apenas
produtos, entre outros. Vale lembrar que em nenhum momento a norma requer que
as organizações adotem esses mesmos termos em seus SGQ, da mesma forma que não
havia esta necessidade nas versões anteriores. Então, se quiserem continuar
chamando de fornecedor, por exemplo, fiquem tranquilos pois não terão uma não
conformidade por causa disso.
Mas o que teve de mudança efetivamente?
A
principal delas foi a introdução do conceito chamado de Mentalidade de Risco, que significa levar em consideração que
existem riscos ao planejar e implementar o SGQ. Quando planejamos um processo
não temos bola de cristal para sabermos se tudo vai dar certo. Em tudo na vida
existem riscos, nas organizações também e consequentemente nos processos do
nosso SGQ.
É
muito pouco provável que consigamos alcançar os resultados esperados planejando
um processo de forma puramente otimista, achando que tudo vai acontecer da
forma planejada. A vida real não é assim, muitas coisas acontecem no meio do
caminho, tanto por fatores internos à própria organização como em função de
fatores externos a ela. É exatamente isso que precisamos fazer agora,
considerarmos os riscos e oportunidades
que temos ao planejar o nosso SGQ, permitindo a definição de ações para lidar
com eles. Se nós temos um risco é porque temos uma fonte para ele, uma causa, e
é por isso que começamos pela identificação dessas fontes, tanto internas como
externas, que a norma chama de Contexto
da organização.
A
Mentalidade de Risco, se bem aplicada pelas organizações, vai trazer muitos
benefícios, tanto para seus clientes e outras partes interessadas como também
para ela própria. Conhecendo os riscos e estando preparados para lidar com
eles, teremos processos mais consistentes e um SGQ mais robusto, com maior
probabilidade de levar a organização a alcançar os seus objetivos. As organizações passarão a ter maior
confiança na sua capacidade de alcançar os resultados esperados.
E o que mais temos de novo?
Tivemos
uma maior flexibilidade na necessidade
de documentação. Deixa de ser obrigatório um Manual da Qualidade assim como
aqueles seis requisitos que exigiam procedimentos documentados. Isso não
significa que as empresas deixarão de ter manuais ou procedimentos (outras
normas nunca exigiram isso, como a ISO-14001 por exemplo, e as empresas
implementaram sistemas documentados da mesma forma), mas agora a ideia é deixar
por conta da organização decidir onde precisa de um documento. Isso foi
possível graças à Mentalidade de Risco.
A
Alta Direção deve assegurar o alinhamento
do SGQ ao direcionamento estratégico da organização (para melhor apoiar a
organização nesse direcionamento), a promoção da mentalidade de risco e o apoio
a outras funções da organização. Não existe mais a necessidade de indicar um único Representante da Direção para
o SGQ, dando maior flexibilidade também para a atribuição de suas
responsabilidades e autoridades. Isso permite atribuir a mais de uma pessoa, a
um grupo ou comitê, ou ainda atribuir cada responsabilidade do antigo RD a uma
pessoa diferente.
Tudo o que é bem planejado tem maior chance
de dar certo. Vários requisitos ganharam uma forcinha em seus
planejamentos, como por exemplo, para alcançar os objetivos da qualidade, para
a realização de mudanças, para a determinação de comunicações relacionadas ao
SGQ, para a realização de monitoramento e medição ou para prevenir erro humano
nos nossos processos de produção ou de provisão de serviço.
Na
identificação dos recursos necessários ao SGQ, temos a inclusão de pessoas e de conhecimento organizacional, considerado aqui como o conhecimento
específico da organização. Quem nunca se viu numa situação onde alguém saiu da
empresa e quem ficou não sabia como fazer alguma atividade ou não conhecia
aqueles famosos macetes? Para prevenir esse tipo de situação, por sinal muito
frequente nas empresas, é que este requisito foi incorporado ao SGQ.
A
competência das pessoas perdeu uma de suas bases, a habilidade. Infelizmente não foi um requisito muito bem utilizado
em diversas situações e acabava sendo tratado apenas como uma formalidade para
apresentar na auditoria, sem um ganho real para os processos. Deixemos agora
que a Mentalidade de Risco nos mostre onde exatamente precisamos controlar
habilidades específicas em nossos processos.
Com
um SGQ melhor planejado, muito mais preventivo ao tratar seus riscos e
oportunidades, deixou de ter a necessidade de um requisito específico de ação
preventiva. Na verdade, a prevenção passou
a integrar todo o SGQ.
Algumas
outras mudanças tivemos aqui e ali ao longo da norma, mas acredito que nada que
uma boa leitura da mesma não possa resolver.
Agradeço
pela atenção de todos vocês e espero que eu tenha contribuído para entenderem
melhor as principais mudanças da norma.
Grande
abraço a todos!
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(*)
João Camilo G. Sardinha é Diretor da
APS Qualidade, com mais de 30 anos de experiência profissional e há 15 anos atuando
como Consultor, Instrutor e Auditor de sistemas de gestão. Auditor Líder
ISO-9001, ISO-14001, OHSAS-18001 e ISO-50001 para a SGS e Instrutor de diversos
temas para a SGS Academy, incluindo Tutor dos cursos de Auditor Líder.
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